terça-feira, 19 de outubro de 2010

depois do FIM.

 

  As vezes puxaria o gatilho, mas sem egoísmo continuo viva, não sei como suguei de mim o veneno, e o que antes sucumbia as veias, só afeta o estômago, horas dando nojo e horas doendo.
  A alma continua violentada, abandonada e carênte, as vezes faz contato, me procura pra relatar o vazio, a dor, o rancor, as alegrias... Mas logo se vai, pega carona com as lágrimas e parte.
  O coração devolvido, pobre iludido, decidiu só ser músculo, o que já o dá muito trabalho, se deixar envolver, não, outra vez ele definitivamente não aguentaria.
  Depois do FIM vem a epifânia, vê-se a resposta, respeita-se mais, ama-se mais, perdoa-se mais. Na negação existe a oportunidade de enxergar, desvendar os olhos e ser grato por não provar mais do veneno. Dar um passo para a abstinencia, desfrutar toda a dor e a transformar num ''não esquecer''.

  Tudo que é sólido pode derreter.

  Abri minhas asas, desconheço o previsível. Todo lugar é o meu. Nenhum é o meu lugar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Fim.

Fitava o vazio, contemplava a luz atravessando a janela e a poeira que rodava em torno dela, abraçava suas pernas como se fossem preencher o buraco em seu peito, buraco esse que os comprimidos jogados pela pia não foram capazes de curar, nem a lâmina jogada no carpete aliviou quando dilacerava seus braços, latejava ainda mais enquanto a garota tingia suas vestes de rubro, e ainda sim continuava internamente no seu negro vazio.
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Os labios tremulos e secos contrastavam com seu rosto encharcado e arranhado, diziam com medo em sussurros ''me encontre aqui''.
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Não haviam mais lembranças para amenizar a dor, ela rolava, fincava as unhas no chão, gemia enquanto todo seu corpo se contraía. Finalmente a encontrariam, esse era o sinal de alguma presença.
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A morfina apresentou-se ao seu corpo e a entorpecia, em volta de seus olhos encontou-a uma sombra profunda  e ao invez de insanidade, os olhos refletiam o abismo.
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Encostou o cano de metal gelado em seus lábios e como a despedida de um amante, o beijou.
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Levou-o a sua traqueia e escolheu seu ultimo pensamento, fechou os olhos, sorriu e a lágrima de alegria que escorreu aqueceu seu coração.

Não mais abriu os olhos, nem desfez o sorriso.