sexta-feira, 9 de abril de 2010

Capítulo VI- Lopus

Como se estivesse esperado todo o tempo somente ouvir o meu clamor e cantar, pude sentir esse tão misterioso alguém.

Quando se calaram os meus lábios e descansei meu coração em um doce embalo e alento, em meio a todo frio da nevasca que congelava os sentidos, um arfar quente abalou-me em meio a esta prisão, entrando como se nascesse para guiar perpetuamente.

Esse arfar quente liberou em mim um ar direto as narinas, um novo sopro de vida então passou por entre meus pulmões e revirou tudo o que até então pensei conhecer algum dia.

Meus olhos até então fielmente costurados, se afrouxaram, tremi, mantive-os fechados enquanto sentia minha alma experimentar algo novo cujo nome e propósito ainda me é desconhecido, meus braços se ataram mais quase se fundindo.

Perdi-me em mim quando então fui encontrada por outro alguém.

Sua respiração se aproximava, estranhamente calma embora tivesse um novo ritmo, o ritmo que reconheci instantaneamente ser o de minha canção.

Chegando então perto de meu rosto, tocou-me uma mão cujos paradoxos pensei serem incapazes de existirem numa só matéria, rústico, quente, macio, seguro, forte e delicado. Delineou minha face parando ao queixo, parecendo reconhecer, como se estivesse observando em vida um sonho.

Nada era dito entretanto não existia o silencio, os corvos estavam anulados, as arvores descansavam num sono profundo e estático, mas agora em compasso exato, meu coração, minha linha e minha primavera acompanhavam o cantar do respirar deste alguém, até que o silêncio fora interrompido totalmente.

_Peço-te perdão se á assustei, esperei seu alento que era o momento certo cujo poderia me aproximar. Acredite, procurei a ti por muito, e essa espera destroçava-me a cada nascer da aurora.

Sua voz era como folhas de outono, suave, forte, agradável, afagadora e confiável. Não temi, logo minhas mãos se afrouxaram, mas em contradição, a canção era acelerada desordenadamente. Pude então entre sussurros pronunciar:

_Não te desculpes, lamento que meu alento tenha demorado, porém te enriqueceis com o mistério que cercava teu demorar, estás justificado.

_Eis aqui a demonstração em atos de um nada do afago que por ti sinto em meu peito.

Tentei então abrir meus olhos cuidadosamente para que a solidão não os ferissem e quebrasse então minha companhia.

Em seguida senti sua face inteira roçando-me têmpora como gesto de carinho, surpreendeu-me nossas diferenças, mas não pude evitar a torrente de compostos de alegria e aconchego que me invadiam e transbordando abriu-me um largo sorriso.

Então o não saber quis diluir minha expressão com a duvida.

_Quem és tu?
Calma e séria soou minha voz.
_Diferenciaria o conhecimento tudo que tenho destinado a dar-te?

Pude ouvir um grunhido e a neve sendo arrastada para trás, o vento então voltou a lutar contra meus sentidos batalhando a favor do entorpecer acordando em mim o pavor, que fez falhar-me voz.

_Nada poderia mudar o que tens dado a mim, mas, permita-me conhecer-te assim como sinto que conheces e mais que isto, reconheces quem sou.

Então, um golpe de proximidade fez o entorpecer perder a batalha, senti a maravilhosa trégua de paz, e perto de minha face alguém se aproximando, desta vez, tímida e ansiosamente.

_Sou Lopus.

Sem precisar de mais, senti-me completamente satisfeita, Lopus dizia tudo que eu ansiava, sem que eu soubesse anteriormente disso.
Senti um sorriso passando pela canção até mim, a neve denunciou-me um rodear e todo meu corpo sentiu que como me guardando em uma concha, fui envolta.
 
Imediatamente reconheci Lopus.
Meu Lopus.



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